Um texto é um conjunto de signos, codificados num sistema, com o intuito de transmitir uma mensagem. A poesia, por sua vez, está associada à carga estética das palavras, especialmente quando estão organizadas em verso.
O texto poético é, portanto, aquele que apela a diversos recursos estilísticos para transmitir emoções e sentimentos, respeitando os critérios de estilo do autor. Nas suas origens, os textos poéticos tinham um carácter ritual e comunitário, embora tenham aparecido outras temáticas ao longo dos anos. Os primeiros textos poéticos, por sua vez, foram criados para serem cantados.
1. Complete o verbete de arcaísmo com as palavras indicadas.
arcaísmosdesusoépocaarcaísmoantigo (2X)
Arcaísmo é a palavra ou expressão que entrou em _______________ numa língua. O ______________ pode ter um efeito estilístico quando ocorre para recuperar a virtualidade de um termo __________________. Tal acontece na literatura, quando um escritor insiste em não deixar morrer um termo ______________ que lhe é caro por algum motivo. Por exemplo, o romance histórico convencional tem necessidade de recuperar a linguagem da ____________________ através de _____________ que asseguram a cor local.
2. Dentre a seguinte lista de palavras, assinale aquelas que atualmente são arcaísmos.
.vetustez.velida .relicário .luscar
. ca.pingarelho.coita.gamo
.semel.mopa.canastro.louçana
.madre.carqueja.fiúza.liteiro
.refrigério.belígero.xerém.samicas
2.1. Associe os arcaísmos aos significados apresentados abaixo.
Campo lexical é o conjunto de palavras ou expressões que se referem ao mesmo domínio da realidade.
Por exemplo, se quisermos construir o campo lexical de vestuário, poderemos usar palavras como calças, camisola, meias, camisa, chapéu, sapatos, saia, vestido, etc.
Outros exemplos:
. campo lexical de futebol:estádio, jogador, bola, equipa, árbitro, golo...; . campo lexical de escola: biblioteca, quadro, livros, cadernos, disciplina...;
. campo lexical de pintura: quadro, pincel, tinta, cavalete, tela, exposição...; . campo lexical de floresta: pinheiros, faia, carvalhos, urso, caverna, pânta- nos, lobo, javali, veado... . campo lexical de mar: barco, areia, onda, marinheiro... Já campo semântico designa o conjunto de todos os significados que uma palavra assume num determinado contexto.
Por exemplo, «as palavras navegar, marear, velejar, sulcar, vogar, singrar, num determinado contexto podem ter um mesmo significado: NAVEGAR. Este campo semântico consiste, então, no conjunto de palavras que têm entre si o valor semântico comum de NAVEGAR. Todas estas palavras e expressões designam de forma diferente um mesmo conceito. » (in Infopedia). Outros exemplos:
. campo semântico de bola: bola de futebol, bola de neve, bola de Berlim, estás uma bola, etc.; . campo semântico de morte: bater a bota, partir, falecer, ir desta para melhor, dar o badagaio, apagar-se; . campo semântico de pé:
- O bebé não queria comer a sopa, mas a bateu o pé.
- Isaltino jurou a pés juntos que não era culpado.
- O texto da Filomena não tem pés nem cabeça.
- Depois da luta, Agamemnon saiu com pés de lã.
- Os teus pés são feitos. .campo semântico de nota:
- A nota de cinco euros mudou.
- A minha nota musical preferida é o «mi».
- Que nota tiveste a Português?
- O golo do Messi é digno de nota. . campo semântico de luz:
- Os meus filhos são a luz dos meus olhos. (= são o meu orgulho,
são muito amados)
- A Maria já deu à luz. (= teve um filho)
- Subimos a persiana para dar luz à sala. (= iluminar)
- O esclarecimento do professor fez luz sobre a dúvida do aluno. (= esclarecer)
- A direção da escola tem luz verde para fazer obras. (= autorização) . campo semântico de coração:
- O coração é um órgão do corpo humano.
- A minha tia tem um coração mole.
- És um coração de manteiga.
- A minha primeira namorada tinha um coração de pedra. - O Chiado é o coração de Lisboa.
- A minha mãe tem o coração perto da boca.
- A Vitória partiu o coração ao ex-namorado.
- Ela fez das tripas coração para manter o coração. . campo semântico de justiça:
- Praticar a justiça de Fafe. (= forma violenta de resolver os assuntos)
- O João disse de sua justiça. (= disse aquilo que pensava)
- Isso é justiça de funil. (= ser parcial mo uso da justiça)
- A polícia atuou com justiça. (= atuou de maneira justa, imparcial)
- A população fez justiça pelas próprias mãos. (= castigou ela própria,
sem recorrer as poderes competentes para tal)
- Os adeptos fizeram justiça a Jorge Jesus. (= reconheceram-lhe razão) . campo semântico de conta:
- Paguei a conta da água. (= despesa, fatura)
- Ele abriu uma conta fantasma. (= conta em nome de um cliente fictício)
- O João ajustou contas com a Joaquina. (= castigar, vingar-se)
- A justiça vai chamar Jorge jesus a contas. (= exigir explicações)
- O Pedro deu conta da limpeza da casa. (= realizar, fazer)
- Ela fez de conta que não ouviu. (= fingiu)
- A Sónia trabalha por conta própria. (= independentemente, por si
própria)
- Isso não são contas do meu rosário. (= não é da minha competência,
do meu interesse)
- As silvas tomaram conta do jardim. (= invadiram) . campo semântico de nuvem:
- Aquela nuvem está a tapar o sol.
- O professor foi às nuvens com a minha resposta. (=irritou-se)
- Caí das nuvens com a derrota no Porto. (= fiquei desiludido)
- O incêndio provocou uma nuvem escura que escondeu o céu.
(= fumo espesso)
- Uma nuvem de gafanhotos devastou o Egito. (= grande quantidade)
- A Joana anda nas nuvens com o novo namorado. (= anda feliz)
- Uma nuvem abateu-se sobre o rosto da Miquelina após a notícia da morte da avó. (= ficou muito triste) . campo semântico de verde:
- A mação ainda está verde. (= não está madura)
- Aquela professora ainda não está muito verde. (= é muito
inexperiente)
- Que saudades dos meus verdes anos! (= juventude)
- A carne verde é desagradável. (= não salgada) . campo semântico de céu:
- O golo do Benfica caiu do céu. (= foi bem vindo ou foi casual)
- A Josefina foi para o céu. (= morreu)
- Os dejetos correm a céu aberto. (= ao ar livre, a descoberto)
- Os candidatos autárquicos prometem o céu e a terra. (= superou
obstáculos, usou todos os meios possíveis)
- Ele moveu céu e terra para provar a inocência do filho. (= fez todo
o possível)
- Aquilo foi de bradar aos céus. (= foi escandaloso, censurável)
"De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis para se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe demais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser - e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas acções é que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim... Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver.
E ali vinha demais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse de outra maneira. Muito embora trouxesse dez réis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza.
Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra de um borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta passava das quatro. E, como anoitecia cedo não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-se lá.
E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa...
Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama! Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes. Não havia que ver: nem pensar noutro pouso. E dar graças!
Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou alguma alma pecadora forçara a fechadura. Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha. Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois de um clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos é que não.
Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel. Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao céu por aquela ajuda, olhou o altar.
Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe. Boas festas! - desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o ar canho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.
Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava? Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida? A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também. E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira. — Consoamos aqui os três - disse, com a pureza e a ironia de um patriarca.
— A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José."